VOZES

Do que fala a boca

Senão daquilo que o coração está cheio?

Aprendi contigo que a alma humana

É toda cheia de medos e sombras de horrores,

Terrores que são quimeras feitas de pensamentos

E não tem existência à luz do sol...

Aprendi contigo que o jugo do pensamento

Nada mais é que fumaça, mas que amordaça

Mais que grilhões de ferro pela preferência à ilusão,

Pelo amor à fantasia e à magia dos milagres...

Desde que a vida chamou-me para ver,

Senti a dor lancinante de um parto que rompeu a minha carne

E fiquei cego, sem os meus pés, sem qualquer chão,

Sem as minhas mãos, sem qualquer abraço...

Meus olhos abertos nada viam em qualquer direção,

Abertos ou fechados tudo viam igual, o mesmo nada...

O nada em mim mesmo, nem braços, nem mãos

E os meus olhos agora nem olhos, só a minha alma fluida

Dançando ao redor da minha miragem.

Assim ouvi pela primeira vez o meu melhor riso

E vi o nada tomar-me para eu ser nada

E ver o todo com os novos olhos.

É doloroso assim te ver,

A expressão mais pútrida da tua fantasia torpe

Aprisionando com grilhões de pensamentos

A imensa massa humana que pensa que vive

E nem vive e nem morre, mas atrela-se à escravidão

Daqueles que assim também viveram,

Maestro dos mortos,

Orquestrando os vivos...

Quanto lixo mental tu tens escrito em livros de leis

Que formam zumbis doutores na fantasia torpe,

Que conduz as massas dormentes,

Que nem vivem nem morrem,

A ocuparem-se de alimentar a tua quimera...

Maestro do horror,

Teu deleite está no poder

E o teu poder na carne pútrida

Donde alimentas os que dormem

E sonham que a vida vem dos mortos

E a eles se submetem voluntários...

Maestro da morte,

Não vês que a ti mesmo te aprisionas

No fruto da tua vontade de poder?

Já comes da tua própria carne e não vês...

Não vês que as tuas doenças vêm à tona

E do cálice que bebes não vem remédio

Se não mais doença?

Nada há de vida na carcaça dos mortos

Muito menos nas marquises que erigis

Sobre os pilares dos pensamentos mágicos,

Nascidos do medo de ver

Nos tempos imemoriais

Onde a consciência insistia em manifestar-se...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 17/04/2006
Código do texto: T140739
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