AVES NOTURNAS

De onde vens, minha Alma,

Que a vejo chegando rota,

Sangrando tuas asas,

Molhadas,

Frias?...

Por acaso não sabes

Que vejo no escuro

Teus olhos de passarinho?

Pousastes ali!...

Vi o teu ritual de arrumar as tuas penas...

Não dissestes nenhum ai,

Contivestes o teu gemido

Ao tocares as feridas

Com teu bico de cantar...

A vi aspergindo os orvalhos da noite:

Voastes novamente

Entre

Os

Penhascos

Estreitos,

Largos,

Profundos...

E agora chegas com pressa

Para te deitares no meu leito ainda quente:

Pensas que não sei de Florbela e Pessoa?

Ria...

Sou eu quem chora

Com meus dedos doloridos...

Voa, minha Alma, voa!

Voas por lugares que

As aves nem de longe

Imaginam existir...

Voa, minha Alma, voa!...

Sem ti eu não saberia das dores

Nem das cores

Que o mundo tem...

Vem, minha Alma, vem!...

Te aqueça na minha parte que ficou:

Amanhã cantaremos cedo...

Amanhã, solos de guitarras elétricas, metálicas...

E os meus dedos que sangrem!

Vem, minha menina, vem!...

Noutra noite me emprestarás as tuas asas

E voaremos por céus azuis, campinas, águas cristalinas...

Noutra noite voltarás com Vivaldi, Quintanas e Coralinas,

E, então, será o meu corpo que se aquecerá em ti.

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 17/04/2006
Reeditado em 23/09/2006
Código do texto: T140747
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