O QUARTO DO DIA

Há formigas no bolo

no arranha-céu da palavra

na Cordilheira dos Andes

perfurando a porta de casa

nas flores suspensas da varanda

nos açúcares e nos formigueiros

sobrevoando elevadores de folhas

caules depauperados

Noutro dia quando me calava no quarto

entraram três, cinco ou seis delas

apressadas a mordiscar o silêncio

conquistando os espaços e a alma

Há formigas nos condimentos

no meu prato descansado sobre a mesa

em felpas de algodão

nas línguas das gentes recalcadas

e em seus firmamentos obtusos