AUTO-RETRATO
Nem sei mesmo o que pensar sobre isso.
Sei que encarar-me é tão perigoso quanto parece.
Porque há noites em que os leões saltam
e invadem os lençóis de minhas idéias
e é preciso ser mais alto para sobrepujar
ou mais baixo para nem ser notado.
Mas prefiro estar ao centro:
cara a cara, olho por olho,
idéia por idéia.
E pela manhã,
onde o mar bate nas nuvens,
não há leões, nem mesmo os seus cadáveres,
nem mesmo o eu que costumava enxergar.
Há, sobretudo, o eu que houve, há e haverá,
como aquele orvalho sorrindo em minhas mãos:
este beijo dizendo que o céu é mais bonito
quando é dia, pra que a lua e as estrelas existam
e quando é noite, para que o sol, as nuvens, tudo,
tudo seja mais essencial, mais verdadeiro.