O Enterro do Negro

Chove aos pomposos guarda-chuvas

negros.

Uma marcha fúnebre encaminha o

cortejo.

No caixão garboso meu corpo

negro.

O peito parado nas mãos postas

nele.

E o cortejo chorando a morte

do negro.

Duas mãos sustentam o meu caixão à ala

esquerda;

outros à ala direita, à frente, meu irmão

negro.

E a marcha fúnebre levando o

cortejo.

Minha mãe coitada, o corpo todo

negro.

Os lábios trêmulos, os olhos vermelhos

e estreitos.

“Não chora, mãe, afinal é só mais um

negro!”.

Quanta multidão de ninguém no meu

enterro.

Uns passos lentos, uns cochichos velam

o negro.

O céu derramando seus pêsames ao meu

enterro negro.

05/ 06/ 08

Júlio Miguel
Enviado por Júlio Miguel em 03/02/2009
Código do texto: T1420387
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