Espelho de Jó

Estou, agora

em frente ao espelho

de mim mesmo.

Sob o aço

de abraços

tão incertos, quanto a esmo.

Se correr,

não sei se posso

e é por isso

que permaneço.

Se querer,

não sei se faço

no avesso

ou no começo.

Que sou,

além do que

tento parecer

por me esconder

de dores minhas?

Onde vivo

tão relapso?

Por que não

alcanço enfim?

Vago e, passível de acalantos,

me lanço na sarjeta

e me deito na descrença.

Pois o coração

entrego em erro e

o escarro me convém;

de cigarros

e améns,

preciso mais de mim

do que daquele deus.

Ora, herege sou

e, no espelho,

nego o sacro!

Analógico ao dorsal reflexo -

na corcunda inóspita -

onde meu pulmão

tenta se valer.

Posto que hoje

morrer não vale,

querer não existe

e a garrafa já secou.

Já não há

mais cartas suicidas,

nem o entorpecer

de almas perdidas

nos lagos de Hades.

Há tudo que se fez

e o mundo em que nos perdemos.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 05/02/2009
Reeditado em 18/02/2009
Código do texto: T1423849
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