DO SER POETA E DA POESIA

Não fosse eu, um poeta,

Negaria a minha Luz,

Ainda que pouca,

Ainda que falha,

Fraca,...

Aos que se enroscam nos meus pés pedindo um rumo?

Não fosse eu, um poeta,

Seria mais um desses loucos

Que empenham suas mentes

Em projetos de rapina

Que viram a sina

De tantas gentes?

Não fosse eu, um poeta,

Execraria a vileza dos que se candidatam

Para trazer justiça, pão e saúde

E bebem do sangue e cortam a carne dos seus outorgantes,

A bem do poder insano dos seus mandatos?

Não fosse eu, um poeta,

Conheceria a doença dos cegos que guiam cegos

Aos gritos de aqui tem luz!... E tudo o que tem a oferecer

É um brutal e perverso cálice

Cheio do mais hediondo medo?

Não fosse eu, um poeta,

Teria a coragem de acordar os sentimentos que giram

Na inércia das fantasias,

Mantendo almas cativas a sonhos

Que são nada mais que belas ou feias prisões?

Não fosse eu um poeta,

Teria enlouquecido de ver a dor e a miséria,

A doença, o medo, a escuridão, as Câmaras de Gás,

As Rosas de Hiroxima...

O debater-se em vão das almas cegas, presas em si

Pelas algemas milenares dos preconceitos e seus medos,

As aquarelas de realidade crua das vísceras explodidas

Manchando as ruas...

Não fosse eu, um poeta,

Teria enlouquecido ao ver a Terra lá da Lua,

Ao ver a Terra lá de Marte, toda Azul... Toda Arte...

Na parte do infinito que nos toca,

E saber dos olhos mecânicos

E de todos os engenhos

Pensados pelo mesmo gênio que criou a Bomba A,

A Bomba H, a Bomba N e todo um abecedário de horror;

Que espalhou Napalm, e fritou a carne do outro

Só porque era amarelo ou de outra cor...

Que ao queimar uma, não se satisfez de tantos ais:

Mandou queimar a outra como se, lá em baixo,

Não fossem de humanos os corpos dos orientais...

Poesia; minha Arte,

Minha porta sempre entreaberta

Para evadir-me das minhas humanas prisões

E voar liberto por lugares que nem de longe

As aves imaginam existir...

Poesia; minhas viagens do Ver

E trazer alguma beleza,

Alguma certeza,

Um segredo para algum menino...

Poesia; minha Luz

Quando me restam procelas em noites escuras

E ouço apenas o choro dos perdidos

Procurando por um irmão...

Poesia; meu cinzel de esculpir palavras

No corpo de algum poema

Para que ele cante,

E dance,

E voe,

Poema passarinho:

Livre!...

Poesia; campo de messe bendita

De onde trago sementes de Pão e de Luz;

Risos!...

Bálsamo para a dor;

Alegrias!...

E da Essência Divina,

Um pouco do mais puro Amor...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 20/04/2006
Código do texto: T142482
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.