O livro dos sonhos

E Josafá pegava alfaces,

enquanto Cristo sambava

nos azulejos da varanda.

Dorotéia passeava

na soleira dos desertos.

E, na lagoa, os sapos arrotavam

o deglutir dos insetos.

Piscavam olhos,

bundas e vagalumes.

Sentava a cigana no estrume

dos tapetes de pasto róseo.

Folhas secas de Sabá;

boceta seca de oliva.

Cego o olho

e o tempo me criva.

Satã me dá um toque

e a lembrança me falha.

Ora, Judas que o diga!

[De perdão se fartou,

no suicídio acertado.]

As mãos cálidas de Jesus

e as mãos de Ananias

se alinham e se emparelham

por divinas coisas ditas.

Samba, Cristo, samba!

Pois a ‘Lena já vem vindo.

Cai o espelho

e rasga o livro.

Vai além do Deus

que pode haver

no coração, a quem

sacie uma esperança milagrosa.

Tudo em sombras,

versículos e letras.

Tudo em tal palavra branda

sem acertos ou limites.

Semeia o campo,

a mente escrota.

Faz crescer ervas perfumantes,

marginalmente, no lago do saber.

Todavia, nada é escuro

e, agora, eu vejo.

Vejo o erro que

cometi por querer troféus.

Pequei por aguçar

coisas que não passam da terra;

que ficam

e corrompem outrem.

Salve o uso do escracho!

Viva o gosto da mentira!

Comamos mais galinhas,

pois já é hora do galo cantar.

(Um fino, por favor)

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 16/02/2009
Código do texto: T1442127
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.