SILHUETAS

Dentro de mim há uma mulher

que de ti respira beijos secos,

que em ti lambe o suor e os cheiros,

que por ti rasga todas as roupas usadas,

que para ti desveste toda nudez sem medo,

que junto a ti não guardará mais um só segredo;

a mulher que há em mim,

a única que te amou desavergonhadamente,

gosta de respirar o ar exalado pela boca

gosta de brincar com os sapinhos da língua

gosta de mostrar os trapos da pele sobre o corpo

gosta de abrir os olhos para gritar quando corrompida

gosta de revelar o encantamento da nudez do pensamento.

Dentro de mim há um homem

que de ti explora os beijos molhados,

que em ti crava as garras: as unhas no cio,

que por ti salga o gozo dos dedos ressecados,

que para ti recria o amor e a mais delicada putaria,

que perante ti não esconde nenhuma das franquezas;

o homem que há em mim,

o único que te amou escandalosamente,

gosta de absorver o ar de cada suspiro

gosta de sorver os bicos: seios cheios duros

gosta de marcar as costas com dedos inteiros

gosta de lamber o mel sublime que cai infernizado

gosta de não ter hora marcada de encontrar a separação.

A visão das sombras e das luzes

confunde o gesto e o espírito

quando estão silhuetas.

A fusão do homem e da mulher

confunde o macho e a fêmea

quando estão amantes.