ESQUADRINHAMENTO

Se for possível,

não passe as horas

tentando encontrar

o próprio nariz no espelho.

Ou terei de ir até você,

como quem não se importa,

e te mostrar o chão vermelho,

sujo de sofrimento

em horas em que eu não

conseguia encontrar

o meu próprio nariz no espelho,

e por procurá-lo ali,

ainda mais não o achei.

Olha, néscio, como eu, que inda mais néscio

não sei se devo ou se não, a positividade

enrolada no tapete da sala e cheia de poeira,

mofando e perdendo a intensidade.

Não chora, não briga, não reclama, não chora.

Bebe esse vinho, e esquece o nariz.

Sai, vai pelo terraço ver a chuva caindo no mar,

e, se possível for, risca-o com um giz o teu nome

dizendo:

– Aqui jaz um espelho.

Júlio Miguel
Enviado por Júlio Miguel em 27/02/2009
Código do texto: T1460442
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