ETERNO
Trabalhar as palavras,
descascar os sentimentos,
temperar à razão... e, vá, à emoção;
misturar bem e jogar no papel.
Mas misturar com jeito
mas jogar com jeito
de jeito
que grude como argamassa na parede.
Ali estarão veias e sangue
corpo e alma do criador, do poeta.
Desaparece a matéria;
a essência fica por aí,
que nem vento.
A uns confortando; a outros afligindo,
que nem vento.
Conforto e aflição a quem de direito,
como o imposto e o louvor:
o quinhão de César e o de Deus.
Mas é necessário misturar bem os elementos
com especial tempero
e levar ao papel...
A eternidade será a conseqüência ...
Que o digam Camões,
Pessoa,
Machado,
Drummond,
Dostoievski,
Cervantes,
...