REPARTIDO

Coloco restos de mim na calçada.

Logo, percebo-me levado

naquilo que se tornou nada.

Carregado por alguém,

cuja face não vejo.

Mas que ao juntar meus cacos

e recriá-los em novas indispensabilidades,

me intervém.

Assim me desdobro

em asas de novas necessidades,

despedaçado inteiro,

antecipando o próximo descarte.

Enquanto uma lasca de mim desabrocha

em novo cativeiro,

continuo ao mercê da arte

de estancar sorrisos no nevoeiro

e sobreviver noutra parte.

(do lviro COLHEITA DOS VENTOS - ed. LEGIS SUMMA, 2008)

ALFREDO ROSSETTI
Enviado por ALFREDO ROSSETTI em 29/04/2006
Reeditado em 20/10/2015
Código do texto: T147614
Classificação de conteúdo: seguro