PEQUENO POEMA DE AMOR E DESESPERO

Na mansidão da madrugada, vens.

Cabelos negros, soltos...

Procuras por meu colo, teu ninho...

E, nua,

Me queimas a pele

Com a tua.

Já não choras.

Agora queres apenas meu colo,

E cobrir-me com teus cabelos soltos;

O teu ventre, roçar-me o peito,

A tua face, a procurar calor pelo meu corpo...

E a linha mais quente da tua perna,

Acordar minha virilha...

E eu,

Meu dedo, risca de giz,

Percorro, reto, teus contornos

Para recordar-me dos teus caminhos e texturas:

Da tua fronte ao teu monte

Onde se espalma para acariciar tua relva macia...

Me beijas beijo com sabor de beijo:

Sal da minha terra;

Tua flor, perfume para o meu corpo,

Se oferta e me sorve:

Mergulho...

Tuas mãos espalmadas prendem meu rosto

Para beijar-me

E os teus olhos, agora mar,

Me banham com luz de cristal...

Ainda ouço, depois do teu beijo,

Que me dizes que me queres...

Agora eu, só abandono,

Te estreito num abraço,

E gritam todas as vozes, e dentro de mim,

Como gritam os gritos intraduzíveis

Das vozes que tudo querem dizer...

De todos os recantos do meu ser,

Vertente vem se reunindo...

Desde o pulsar das minhas têmporas

Às pontas dos meus dedos,

Garras que se agarram

Para não caírem no vórtice sem ti,

Vem singrando por todos os rios

E, torrente, se lança ao teu mar!...

Quem se importa

Se me acordo só

E tua fada já partiu?

Quem se importa?

- Meu Deus, de onde vem esta primavera?

É desgelo de quantas eras

Acordando sementes de trigo de outros sóis?

De onde vens?

De que mares vens?

Vejo escarpas!... Ouço o bramido de ondas!...

Vejo verdes que são verdes de pastos montanheses...

De onde vens?

Será de Espanha ou de onde chegam os ventos

Vindos da Grécia pelos Mares do Oriente?...

Por que nos separam tão distantes tempos,

E agora tão distantes cidades,

Vidas e pensamentos?

Por que só na etérea matéria

Confessamos nossos mais profundos desejos?

Por que sempre nos calamos ao menor sinal,

E permaneço em pé num porto vazio

A espera de um barco que nunca chega?...

Por que sempre que caminho só, por tantos dos meus caminhos,

Sempre me assalta o pensamento de encontrar-te pela estrada?

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 30/04/2006
Código do texto: T147840
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