Lágrimas de outono

Lágrimas de outono

Sandra Ravanini

Sabe-se lá quando naufraguei no sangue frio

de suas noites de verão, naqueles soluços

contidos, traindo a seiva dos lírios em cio,

saciando a sede nas gotas dos meus pulsos?

Sei das estrelas que chorei nas primaveras,

afogando em meu silêncio tais procelas,

neguei as doces chuvas de minhas quimeras,

renasci na brisa pelas frestas das cancelas.

No revés das estações agora hiberno,

na grinalda de flores quando me negou,

por toda vida matou-me em seu inverno,

querendo de mim a folha triste que secou.

Ingrato espinho desta flor que lhe chorou,

arrasta o caule, jaz: raiz em abandono!

Fogem as sementes da vasa que plantou,

secando, enfim, as lágrimas de outono.

22/04/2006