O CIRCENSE AUSENTE

há um trambolho estranho no centro da praça;

aproximei-me:

aposentado, o canhão de um homem-bala!...

amante fui, da trapezista,

perdi, numa gargalhada, todas as minhas glórias de palhaço,

aprendi – quase sem querer – a me equilibrar na vida,

quando, do arame, joguei alto os malabares,

há um trambolho estranho no centro da praça:

é o canhão usado do homem-bala!...

se dei para comer mais de um leão por dia,

foi por falta de fila no trailer

da entrada,

nas ruas, nem mais cartazes nos homens-sanduíche,

nem mais crianças soltas, fugidas das escolas

há um trambolho enorme no centro da praça:

é o velho canhão do homem-bala!...

dobrei a lona rota em troca de pão e telhado,

deixei no picadeiro o domador de feras,

se hoje volto à praça,

só curiosidade,

foi para reconhecer aquele trambolho enorme, abandonado

proibiram tanto as artistas de pernas de fora,

o globo da morte,

os leões, os tigres, os macacos,

as mulheres-barbada,

as mágicas,

que, aposentado ali: o canhão do homem-bala!