O Rio Nada _ Que Nada!_

Elane Tomich

No alongado do aberto

o rio nada _ que nada! _

um nada a nadar esperto

abaixo do espelho, quieto.

Como suspiro silente

bombeando o coração

ganha garra, garra força

vira labuta de gente

ribeirinha que se esforça...

no viver, na margem ser,

erva daninha ou floresta

no remo contra a corrente

onde é difícil escolher

como contar sua história

se em roda de entardecer

se em luar de seresta.

Do Fogo-Apagou o pio

não cabe no desvario

da pressa das corredeiras.

No afago do rio, o contrário:

brincam as quebras de horários

na quietude das beiras.

No largar largo do rio

no jogo do vai-não-volta

vai-se o quente fica o frio

chega uma dor tão funda

parece medo com escolta

contra o temor de si

denúncia do bem-te-vi.

A corredeira aclama

as paixões na contra-mão.

No circo da piracema

pecados de antemão

gota d'gua que derrama

a dor de amor de Iracema

Ninguém segura este rio

no charco quente do cio.

Só, se represa pós fonte,

guardando a vinda da espera

sonhar de quimera mera

no esquecer do horizonte.