Cinquentona
Angélica T. Almstadter
Bate meio século à porta,
E o que importa?
As marcas, uma a uma desenhadas,
São mostras dos anos de vivência,
Nada para arrepender,
As folhas escritas, aí estão, dispostas
Figuram também as arrancadas,
Como prova da muita experiência.
Cinqüentona senhora, há muito ainda pra viver,
Muito ainda a dizer, muito a fazer,
Um relance sobre o óculos, perpassados,
Mostra-lhe as feições pensativas,
As falas ainda, e sempre atrevidas,
Os gestos mais comedidos,
Falta tempo, sobram-lhe expectativas,
Os gostos, os tens mais apurados,
Os desejos mais definidos.
Meio século, de histórias, entre a razão
E a fina teia da utopia,
Gravadas na memória, do museu da paixão,
Acervos do seu coração,
Guardados como rica prataria.
Cinqüentona senhora,
A vida lhe deve anos a fio de liberdade,
Sonhos roubados na surdina,
Os direitos de ousadia, arrebatados,
E muitas noites de saudade.
Por sua emérita disciplina;
Hão que ser cobrados, dobrados;
Os anos de angústia e solidão,
Se ainda houver alguma disposição...