Ressaca

Eu sou um poeta quase sem fígado.

- e todo poeta adora falar dele mesmo -

na minha cidade chove hoje o dia inteiro.

porque ontem também choveu, e estou sem fígado porque vomitei ontem. quase até a morte (pensei).

eu não consigo compreender o que há de poético em divagações anais.

a poesia se infiltrou tanto na minha cabeça que eu não sei mais separá-la de mim. ou definí-la.

(quando as pessoas lêem eu eu eu, falando de mim, acho que elas internalizam esse eu achando que é elas. mas não é. é uma ilusão poética)

eu não tenho assunto. eu sou um vagabundo arrependido com o rabo debaixo das pernas, um rabo ridículo saindo do cu. que eu não sei se tem acento gráfico. não sei se esse acento é com c ou ss.

eu ouço hip-hop, expressão minimalista e eletrônica muito popular entre os jovens de nossa sociedade do século XXI (essa parte eu escrevi para a posteridade).

será se a internet irá nos levar até a posteridade? a nova imprensa?

imprensa hoje em dia não é aquela de Gutenberg, mas sim um conglomerado corporativo visando lucros porrilionários. e se você não aparece na imprensa você NÃO é um escritor oficialmente falando.

eu não sou um poeta porque vinte mil editoras me rejeitaram sem ao menos me ler. porque eu não tenho nome.

aposto que nenhuma editora te rejeitou: você aí do outro lado a ler.

eu compreendo a imprensa e as editoras, porque eu faço economia na faculdade. e se eu fosse um editorzão eu não publicaria isso que eu escrevo, porque não existe caridade entre pessoas jurídicas.

hoje eu não fui trabalhar. porque eu passei mal. etc.

eu deletei também o meu orkut e o meu msn por motivos pessoais.

porque tem um veado me perseguindo e estou com medo dele.

até pedi a Deus por proteção.

e, aliás, Ele atendeu meu pedido.

vou trocar meu número de telefone também. "faça sua parte que Eu te ajudarei". aliás, esse é um dito que atribuem a Deus mas não há provas de que Ele falou isso.

eu me lembro de algumas coisas que eu disse: "os escritores são egocêntricos de dedões ossudos. e bebem gelados sucos de solidão",

"estacionamento. árido.", "gostaria que você se lembrasse de mim assim como se lembra das canções do rádio. gostaria da mesma atenção que você dá pra televisão". entre outros.

Já escrevi uma pequena epópeia digital, um nome muito engraçado pois uma epopéia deveria ser grande, assim como um épico. a poesia, no entanto, não é grande. não é tão grande quanto os edifícios de Dubai.

os edifícios de Dubai, no entanto, terão uma queda gigantesca. que eu duvido que a poesia terá.

eu acho que essa minha leitura está ficando descontraída e gostosa, apenas para mim mesmo, no entanto. tem sido descontraído escrever essas asneiras.

ainda chove lá fora. a terra está molhada, a grama é um perfume gratuito e lindíssimo. posso perceber pela minha experiência de vida que as coisas mais bonitas são gratuitas. - a minha poesia não é bonita, mas é gratuita em homenagem a todas essas coisas - o mp3 é gratuito mas o lucro, como um gafanhoto, trava uma luta hercúlea contra ele.

sou um economista poeta, isso é muito contraditório. o que fazer de minha vida?

a chuva lá fora - flores de lilás na árvore, insetos de antenas longas, umidade, moça de camiseta branca (na minha cabeça) - explosão de cores, beijos, sabores, debaixo do céu cinza. quando as alturas estão descoloridas a terra se enche de novidades, e o yin-yang é atingido constantemente no universo em movimento. toda uma roda cármica de poeiras e brilhos conspirando para a justiça serena dos pombos, que agora se escondem em seus conclaves secretos sussurros de folhas pela natureza.

mente vazia e calma para escrever poema

Om.

sem mais cigarros e sem mais bebidas para mim, meu fígado me ama e ele não quer nada disso comigo.

meu corpo necessita de harmonia.

estou em repouso e recuperação, eu sou uma canção em uníssono ré menor. a chuva meu background. confortavelmente no meu computador escrevendo, pois o orkut se apagou e também o msn. por motivos supracitados.

estou feliz apesar de probleminhas, não posso reclamar. porque busco o equilíbrio sem me preocupar se vou atingí-lo.

e essa é a minha mensagem para vocês, crianças!

não bebam, não fumem, não visem o lucro como última coisa das suas vidas. sentem-se e relaxem.

eu eu eu eu eu. consegui enganar vocês?

a vida não é um filme, afinal. nem livro nem poema nem música. tudo isso faz parte da vida. mas a vida, ah, a vida...

falei dela em algum lugar por aqui...