Semente Danada

Frutos cadáveres é o que vi

Negros e abolhados pendurados

Cada um em seu galho

Pelo pescoço, mortos, sufocados

Rubro era o chão que cercava a árvore

Pelo sangue

Pelas fezes

Pela placenta da mulher morta

Grávida

E o choro de uma criança

Expelida do útero da mãe

Enquanto essa sacudia e balançava no ar

Último recurso a propagação da vida

Aborto de criança quase pronta

Cedo ela saiu

Mas viva

Seu choro ecoava e eu a acolhi

Pobre criança

Semente de fruto cadáver

Sua sorte nem quero pensar em imaginar

Pois semente de tal fruto

Semente danada

(E o que será deste que acolheu tal semente?)