Se D(d)eus existisse

Tomai-me, Dionísio!

Entregue em teus braços

quero estar;

sonhando no compasso de Kronos

e na cadência de Morfeu.

Queimado, transpasso

a barreira imagética

acompanhado por Apolo

no cosmo inteligível de Plutão.

Por relvas,

vou disforme

sobre o unicórnio

que afugenta

ninfas das esquinas

obscuras da cidade.

Zebedeu me chora lágrimas

do mecenas e do ateu.

Netuno, então, ergue-se impávido

na espuma que colore

o tridente do diabo;

é mar de lágrima e sangue,

que nem Moisés

poderá separar.

Vejo e canto

o que me contam

sons alucinógenos no espaço,

como gargalhadas mentirosas e sombrias

dos palhaços assassinos.

São quase piadas feitas

nos momentos em que se sofre.

À fuga do futuro! -

Se anuncia a profecia.

Nascem sábias coisas ditas

sem precedentes ou acertos.

De sucesso, logo se explodem -

sobre cumes de almas

lavadas na mais bela

poça d’água -

olhos vis

que não

conseguiram ver.

É noite agora, irmão.

Madrugada quase chega.

Tarde foi e não volta,

enquanto a aurora

não assassina

o crepúsculo vampiresco.

Aids nos mosquitos,

pernilongos, pênis longos,

ou curtos - tanto faz

agora que o Japão

se senta e come conosco.

Cristo, só você,

Senhor, filho de Deus.

Único que é luz,

cândida luz,

que a escuridão quase carnal,

entrevada em desassossego,

elimina de uma só vez;

só candura há na Terra.

Brassom em zemfa

rev dotu euq derpu.

Mosso sosomis,

mes loescrupu

uo oram

on grone caocora.

Tudo o que se vê

no universo pintado

pelo desespero da mente

presa no corpo inútil

e fútil -

como os tementes ao deus invisível

presos no livro

das carochinhas -, apenas

é o que não se conta

se não se estiver

no precário do cérebro.

Levai-me, pois, Satã,

que o Deus e os deuses já se foram.

“Afasta-te Satã!”

Sou da Morte,

não sou forte.

Da vida, só quero sorte.

Meu torpor,

que então se esvai

na soneira e no cansaço,

é de todos a quem amo

e de mim

que sou meu Deus.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 31/03/2009
Reeditado em 01/04/2009
Código do texto: T1515388
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