Dissolver
Vinte séculos de revolução
e ainda há fome do pão que é a poesia.
Quando tento saciá-la, tento em vão:
é o ritmo perene, noite e dia.
Jorge de Lima
uma essência gasta
poeta sem séquito
sorriso decrépito
lábios sem mel
mão sem anel
desejo saciado
amor petrificado
corpo sem vermes
poemas inermes
dissabor banal,
uma essência gasta
o bardo com inspiração
fome empanturrada
poesia lavada
pelas lágrimas que vertem
em seu leito prosaico
chafurdando seu amor
em sua dose
de sevícia,
uma sutil solitude
preciso recuperar
dissolver o viver
largá-lo de soslaio
correndo na avenida
olhando o torrão
estático, desgrenhado
solerte como o tempo
esperando desfazer-se
na chuva que há
dentro de mim.