Dissolver

Vinte séculos de revolução

e ainda há fome do pão que é a poesia.

Quando tento saciá-la, tento em vão:

é o ritmo perene, noite e dia.

Jorge de Lima

uma essência gasta

poeta sem séquito

sorriso decrépito

lábios sem mel

mão sem anel

desejo saciado

amor petrificado

corpo sem vermes

poemas inermes

dissabor banal,

uma essência gasta

o bardo com inspiração

fome empanturrada

poesia lavada

pelas lágrimas que vertem

em seu leito prosaico

chafurdando seu amor

em sua dose

de sevícia,

uma sutil solitude

preciso recuperar

dissolver o viver

largá-lo de soslaio

correndo na avenida

olhando o torrão

estático, desgrenhado

solerte como o tempo

esperando desfazer-se

na chuva que há

dentro de mim.

Ton Machado Guimarães
Enviado por Ton Machado Guimarães em 02/04/2009
Reeditado em 20/06/2016
Código do texto: T1518780
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