oração pagã
Leve gaia
Sinto peso em meus ombros
Eu ultra-leve
Sou só célula
Neste pequeno veio
Pensando ser imortal
Infima partícula
Tentando ser imortal!
Gaia
Limpa-me
Livra-me
De toda aspereza
Do que tratam por grandeza
Humanidade!
Deixa-me ainda
Entre os pequenos
E as tuas ciências de sobrevivência
Mas livrai-me deles
Quando estiverem pequenos demais
Quando começarem a se consumir
De mesquinhos
Envolva-me
Chacoalha-me
Salva-me de mim
Pois que estou sangrando
Esta dor visceral!
Deverei enfim morrer mil vezes?
Aprenderei?
Leve gaia
Liberta-me
Estas garras!
Destes loucos devoradores
de mentes
Transformam o meu medo do escuro
em servidão eterna
Ensina-me tua leveza
Intestina-me
Afasta-me da presença
Estes nobres senhores
E os teus templos
Malassombrados
Nobres senhores
Tão falsamente gentis
Tão humanamente senis
Tão dolorosamente servis!
Gaia
Enquanto a humanidade oscila
Paixão e demência
Amor e perversão
Paralisia e revolta
O futuro e o caos
Eu, de aprendiz de parasita
à parasita
Maldigo-te a eternidade
Rogo-te pragas
Apelido-te por Deus
o pai
Transformo-te em vingança
a mãe
E insana que estou
Dou-te um beijo em mim
Pequena demonstração
da minha imensa hipocrisia!
Não sossego
Me alegro
De filha-da-puta que estou
Sugo da tua vida tuas entranhas
Até sentir tua morte iminente
e a minha
E de inchaço
Sem coragem de dar cabo de mim
Sigo
Te torturando
Aos poucos!
Leve gaia
Guia-me de volta
Cura-me
Da loucura
Do medo do vazio
Do vazio!