oração pagã

Leve gaia

Sinto peso em meus ombros

Eu ultra-leve

Sou só célula

Neste pequeno veio

Pensando ser imortal

Infima partícula

Tentando ser imortal!

Gaia

Limpa-me

Livra-me

De toda aspereza

Do que tratam por grandeza

Humanidade!

Deixa-me ainda

Entre os pequenos

E as tuas ciências de sobrevivência

Mas livrai-me deles

Quando estiverem pequenos demais

Quando começarem a se consumir

De mesquinhos

Envolva-me

Chacoalha-me

Salva-me de mim

Pois que estou sangrando

Esta dor visceral!

Deverei enfim morrer mil vezes?

Aprenderei?

Leve gaia

Liberta-me

Estas garras!

Destes loucos devoradores

de mentes

Transformam o meu medo do escuro

em servidão eterna

Ensina-me tua leveza

Intestina-me

Afasta-me da presença

Estes nobres senhores

E os teus templos

Malassombrados

Nobres senhores

Tão falsamente gentis

Tão humanamente senis

Tão dolorosamente servis!

Gaia

Enquanto a humanidade oscila

Paixão e demência

Amor e perversão

Paralisia e revolta

O futuro e o caos

Eu, de aprendiz de parasita

à parasita

Maldigo-te a eternidade

Rogo-te pragas

Apelido-te por Deus

o pai

Transformo-te em vingança

a mãe

E insana que estou

Dou-te um beijo em mim

Pequena demonstração

da minha imensa hipocrisia!

Não sossego

Me alegro

De filha-da-puta que estou

Sugo da tua vida tuas entranhas

Até sentir tua morte iminente

e a minha

E de inchaço

Sem coragem de dar cabo de mim

Sigo

Te torturando

Aos poucos!

Leve gaia

Guia-me de volta

Cura-me

Da loucura

Do medo do vazio

Do vazio!

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 03/04/2009
Reeditado em 22/10/2011
Código do texto: T1521418