"Em Busca do Porão"

Casa vazia, magra de arte e desejo...

O bocejo de fome e de sono, que nunca tem fim...

E aquelas pedras que talvez parem nos rins.

As paredes estão tão velhas quanto estou eu,

O chão, a missão, a atração do meio em torno do fim...

A vida-passa-aos-olhos e mostra o que foi meu...

O epitáfio escrito em letras maiusculas,

Como nossa luz, que agora está minúscula.

O epilogo do apocalipse vem de uma vez só,

Sem cor, sem dor e sem ardor...

É uma intenção que não começa e nem termina no pensamento

É como uma navalha tão falha quanto o próprio vento

Aqueles sonhos de alto-piedade,

Onde revelam-se as feridas de nossas maldades;

O sol, que lá de cima brilha em baixa estatura,

A escritura que confirma a nossa arquitetura...

A planta que mostra apenas uma inovação...

O sol que busca o porão lá em baixo no chão

Mas não o encontra...

A poeira cobre a sala e o banheiro inteiro...

A mesa está posta à anos e temos os encaixes dos copos

Os corpos não estão presentes,

Mas mesmo assim os presentes 'inda estão embaixo da árvore,

Ainda embrulhados em papel crepom e fitas de cetim

Nem mesmo assim sabemos onde é o começo,

E onde é o fim...

A casa é vista de cima em pura paz de intensidade...

A minha casa é a mais bonita da cidade...

Não tem cor, não tem cercas, nem jardim encantado

Não tem feridas, não tem brigas e nem vizinhos ao lado...

O sol ainda está vivo, ativo, ainda é dia!

Mas nossa luz é fraca, é vazia...

E nem clareia aquilo que já conhecemos

O rosto cala ao lado da lareira e nos traz azia,

O olho baixo debaixo da lenha causa afasia.

Caminhando assim tão devagar no chão velho e vulgar

Não ouvim’os passos e não fazemos barulho,

Depois dessas janelas e quartos só temos nosso orgulho:

O amor não entra mais aqui!

Nesse espaço está o vazio

Aqui ele não fala, não cala e nem dá pio.