Carta Suicida I

A busca do seu

Eu interior

não necessita palavras.

Portanto, cala-te na hora

que se anuncia (!);

Viva o espaço e tempo

que a ti prouver.

No murmúrio

e no sussurro

das gotículas resplandecentes,

mira-te a ti mesmo

e lava as lágrimas de saudade.

Digo a mim, que é você.

Não me vou

só por tristeza.

Não anoiteço

só por cansaço.

Só porque estou só,

não quer dizer

que sou tão só.

Sou tranquilo e estranho, agora.

Estou pronto para a viagem,

sem escalas e sem volta.

A Drummond dedico

a última carta suicida.

À família, minhas dores,

que perdurarão por alguns segundos;

depois é só passado.

Aos amigos, hei de estar

esperando laços nossos,

vícios novos.

Aos amores digo apenas

canções melosas

do instante em que se apaixona.

Vou feliz.

Com Dionísio estarei

em campos de negras rosas,

transparentes e tão sãs

quanto as verdades que verei.

Cristo, então, me espera

no seio inchado de Maria.

Embriaguemo-nos com tal néctar,

a discursar sandices

sobre o Kharma.

É a boa hora;

a última hora.

Sem erros ou acertos,

como a última página do livro,

que nem sempre responde,

mas permite ir mais além.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 09/04/2009
Código do texto: T1530871
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