Morte

Repudio a morte abrupta,

insípida, inesperada;

o final da trilha sem prenúncios,

de estalo, como um susto,

sem saber que me vou.

Que venha a mansa agonia

e o lento desmoronar:

o desfilar de amigos,

o choro dos parentes

e os papéis em ordem;

a tentativa dos médicos,

a conferência dos Mestres

e a consciência do fim.

Espero a despedida lúcida

vendo, nos olhos de cada um,

o início da sauidade.

Apreciarei latas de biscoitos,

ramos de flores

e carinhos passageiros.

Escolherei roupa nova,

música, igreja

e padre à moda antiga.

Quero o tempo parado

no dia em que me for,

tendo os olhos de morte

e mãos de ressureição.