RÉQUIEM PARA SAUDADE

Saudade é prato que a gente não leva pra mesa,

nem consegue escutar quando se quer.

É algo que tem tantos flancos e becos que não dá para colher numa atracada só.

As minhas saudades vêm de longe, de soleiras de portas que rangem ao roçar do vento. São filhas que fiz em goles longos, em passos fortes, cardeais que vivem mostrando seus dentes.

Saudade é como um pêndulo de fio emendado sem fim,

nódulo rançoso com veias que conduzem seu gozo em galopes sem colchas, sem sabugo, sem esmola.

Saudade é um rouco, frouxo dedal que colocamos na alma para nos proteger dos ventos, dos medos, dos estopins de Maria.

E que hoje, sem conseguir calar meus olhos e destravar meu sono,

fico aqui, na busca para rimar seus acordes.

Fico esperando a sua hora de decantar, para se recolher reclusa dentro do que entendo por mim.

Como se fosse a única coisa nessa vida que poderá me levar de volta para casa.