Entre as mãos...

Entre as mãos a cabeça

apertada

no espaço deixada feita independência

insanamente livre

a cabeça por sobre a cabeça

Consciência, espia e guardiã

da acção emergente

liberdades sempre condicionais

consciências auto-censuras , o ser possível..

Mãos tenazes e lassas

simultâneas mãos, dúbias qualidades

o pensamento voa preso

papagaio de papel , ás ordens do vento

ao manejo das mãos

o lúdico meninar, intacta cabeça livre

infâncias idas.

Cabeça ao fundo, o mar a praia

na areia fincadas as mãos, âncoras derradeiras

o naufrágio eminente

de ideias transbordantes, cabeça rede

mãos estanques sustendo fluxos brotantes

peixe em estertor

neurónios em novelo

labirinto cerebral

compactas clausuras, as mãos castrantes

a cabeça prisioneira!

A cabeça manietada, algemas no pensamento

mãos temerárias, carentes,

inverosímeis gestos descoordenados.Pensantes

entrelaçadas, descuidadas e já frias de calores gastos.

A cabeça, das mãos fugitiva , errante

em oceanos e firmamentos perdida

consecutivas viagens em velocidade luz

das alturas maiores de miríficos sentires

em abruptas quedas nas profundezas oceânicas

gélidas, negras,

lugar de corações silenciados.

Entre as mãos cabeça

prenhe de todos os pensamentos existentes

geradora de enunciados futuros

o mundo em sobrepeso, esmagador.

As mãos incapazes.

A cabeça no chão rolando no mundo,

incerto rumo, vagamente perdida

em percursos declinantes , em todas as escolhas

livre.

Lúcida , pouco sensata ,irmã de inusitados viveres

o próprio reflexo da loucura, mas

sempre devotadamente livre, em

eternas caminhadas surreais

Despojada, livre andarilho sempre caminhante. das mãos um breve repouso,

rolando no mundo, do tamanho do mundo,

o ogre devorado. Paradoxalmente.

Paradoxalmente autofágica,

entre as mãos as mãos

e a cabeça hipérbole!

Mãos no queixo o mundo na cabeça!