Chamando a poesia

Chamo a poesia;

Mas ela não vem.

Ela está dentro de mim,

Como um pássaro dentro da gaiola de porta aberta.

- ela não sai.-

Tem medo do mundo do lado de fora.

Acuada num canto, pede pra ficar.

Suas asas são trêmulas e temerosas.

O mundo do lado de fora lhe trás o pânico.

O mundo de verdade dói e a poesia quer manter-se sóbria

Como um velho bêbado tocando flauta no canteiro central

Da avenida Brasil em plena quarta-feira de manhã.

Chamo a poesia;

Ela me ouve, mas na vem.

Estatelada num canto de um canto meu qualquer,

Se abasta na própria inércia.

O mundo de fora é para ela um Dragão na caverna, mantendo a princesa da esperança em cativeiro.

A poesia anda cansada,

Cansada de maquiar o mundo, os amores, a miséria, as dores, as guerras e as mentiras.

Chamo a poesia: ela é agora uma bela adormecida.

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 17/04/2009
Reeditado em 17/04/2009
Código do texto: T1544730