Chamando a poesia
Chamo a poesia;
Mas ela não vem.
Ela está dentro de mim,
Como um pássaro dentro da gaiola de porta aberta.
- ela não sai.-
Tem medo do mundo do lado de fora.
Acuada num canto, pede pra ficar.
Suas asas são trêmulas e temerosas.
O mundo do lado de fora lhe trás o pânico.
O mundo de verdade dói e a poesia quer manter-se sóbria
Como um velho bêbado tocando flauta no canteiro central
Da avenida Brasil em plena quarta-feira de manhã.
Chamo a poesia;
Ela me ouve, mas na vem.
Estatelada num canto de um canto meu qualquer,
Se abasta na própria inércia.
O mundo de fora é para ela um Dragão na caverna, mantendo a princesa da esperança em cativeiro.
A poesia anda cansada,
Cansada de maquiar o mundo, os amores, a miséria, as dores, as guerras e as mentiras.
Chamo a poesia: ela é agora uma bela adormecida.