Ave Ferida

E lá vai a ave

Abatida em vôo

Quebradas suas asas

Arrancadas as penas

Amarrado seu grito

Assim vai a ave

Triste a vagar.

De vôo errante

Caminho incerto

Vai desvairada

A procura

Do ninho

Que foi destruído

Pelas garras

De espinhos

De feroz

Predador.

E assim vai a ave

Cada dia

Mais só,

Sem saber

O que sente

Chega até

Me dar dó.

Voa,

Voa ave!

Abre as asas

E voa!

Lute!

Relute!

Não se deixe levar

Não vá se entregar.

Mas seu grito de angústia

Ecoa em meu peito

Sinto sua agonia

Seu desespero

E a lágrima

A rolar.

Já não tenho mais asas

Nem sei mais voar,

Tento erguer-me

Às alturas,

Mas não chego lá.

Trago nos pés

As feridas,

De chagas

Mortais,

Vôo azul

Não tem mais,

Pois em meu

Coração,

Cravaram

A jarda,

Do algoz

Opressor.

Venha ave,

Toma a mão

Que te estendo

Sou teu socorro,

Pousa o pé

Em meu ombro

Para teu ninho

Eu vou te levar.

Não, não,

Deixe-me

Aqui

À morrer,

Bem só

A chorar,

Pois perdi

O meu ninho,

Não sei

Mais onde,

Meu ninho achar.

Meu lar

Desmoronou

O vento levou.

Meu corpo

Arde em febre

Me sinto doente

Minha alma

Demente

Queima

Num fogaréu.

Voa ave,

Voa,

Sobe ao céu

Vaga às alturas

Lá é teu mundo

No universo

De amar.

Conquistas

Te aguardam,

Foste feita

Com asas,

Pra os céus

Alcançar!

Tu não sabes

Nem vais

Entender,

Que meu corpo

Meu ser,

Jaz nas cinzas

Moribundo,

Em terror

Produndo,

Sem lugar

Prá pousar.

E vacilante,

Com asas

Inúteis,

O mundo

As nuvens

A lua

O sol,

Já tentei alçar,

De nada adianta,

Não sei mais planar.

Minha alma

Se encontra

Ferida,

Abatido

O espírito,

Pelo

veneno

Da jarda vil,

Atirada

Por caçador,

Cruel

E senil.

Minha dor

Rasga o peito,

Os pés pesam

Tal chumbo,

Estou doente

Febril,

E o meu ninho

Desfeito

Jogado ao vento

Como posso

Voar?

Ave ferida

Dou-te guarida

Vem,

Ergue a face

Ao azul infinito,

Que cobre o vale

E a montanha,

Contempla

O lago dourado,

Onde está

O soldado

Esperando

O condor.

Veja,

A beleza das trilhas.

Ouves,

A voz da canção

Que ao mar às vagas briga.

Veja o brilho da lua

Que lume à noite

De breu de chorar.

Seca tuas asas ao sol

E deixa o calor

Tua alma tocar.

Vem!

O sol

Sara feridas.

E dos teus pés

Vai o peso aliviar.

Por isso

Flutua,

Nas asas

Do vento

Vais ver,

Ainda podes voar!

E assim a ave

Sofrida

Dorida,

Pelo sol

Curada,

Para o azul

Do infinito,

Seus olhos

Voltou.

Abriu asas

Levantou,

Das cinzas

Voltou-se,

Ergueu-se,

Mesmo

Em dor.

E ouve-se

O grito

Da ave

A dizer:

Para o alto

Voarei

Sem temor!

E a ave

Ainda fraca,

De pálida tez,

Com o corpo

Febril,

Mas de espírito

E alma

A cantar,

Alçou vôo

Ainda tonto,

De trôpego

Andar.

E para o azul

Das montanhas,

E campos

Celestes,

Com força

Com vida,

Voltou

A voar!

Maria
Enviado por Maria em 12/05/2006
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