"OS"

Este poema é de cerca de 1993 (foi respeitada a grafia original, anterior ao vigente acordo ortográfico). Embora eu seja meio avesso às formas, assumi fazer um ensaio, utilizando exclusivamente como vogal o "o" (sem restrições a consoantes ou sílabas mudas; tive até que quebrar o galho com um verso em espanhol).

“OS”

Nós somos todos tolos, tontos,

Homólogos nos rostos ocos,

Donos do jogo, do gozo, do fogo,

Coxos com os cornos pomposos.

Monótonos cromossomos,

Cloro, cromo, bromo, boro,

Fósforo, pomos por os poros.

Gnomos dos Pólos, do solo,

Do lodo dos fossos, nos morros,

No Sol, do Cosmos, do Holos.

Nós somos como somos, corpos,

Porcos gordos, corvos com voz,

Tronco, flor, gomos do pomo,

Sons sonoros, sonsos, cor, dor.

O gosto do novo, o odor do povo,

O óbolo, o logro, o ogro do conto,

Nossos roncos no pronto-socorro.

Nós somos como fomos, portos do boto,

Homos, lobos, monos, potros.

Nós somos como somos, corpo,

Torso, dorso, colo, gostosos.

Ossos grossos, nós somos moços

Dolorosos, cômodos, morosos,

O soco no rosto, olhos foscos.

Colossos com os olhos bondosos,

“Nosotros somos locos, los dos”,

Colonos com os olhos fogosos.

Nós somos como pomos os sonhos

No copo, logo sono solto.

Soltos, pomos o sonho no bolso

Com o consolo do sonho oposto.

Publicações anteriores (apenas poesia):

"Anos de Vigília"

"Orgíaca".