SAUDADES NAS ESTRELAS

Dedico este poema à Betina, minha leitora e comentarista número 1, a minha "moeda da sorte". Este já pertence à coletânea "Viagem ao País dos Seres Humanos", a mais recente. Espero que ela e todos vocês possam gostar. Rafael Teubner.

SAUDADES NAS ESTRELAS

Tornei-me poeta de um sentimento único

E fui habitar entre as estrelas,

Distante da experiência do real.

Saudade companheira,

Saudade de uma saudade,

Saudade do que nunca existiu.

O meu coração tacanho e deserto

Ornamentou-se de dunas,

Saudades caleidoscópicas,

E aprendi a brincar de ilusões

Do que jamais ocorreu

E a sentir saudades bem pessoais.

Poeta! O que mais fui eu?

Poderia ter memórias do olvido,

Tendo habitado um Paraíso?

Poderia ter memórias do Paraíso,

Se eu tornei-me um olvido?

Estrelas anãs brancas,

Estrelas gigantes vermelhas,

Eu, viandante, peregrino,

Bem as conheci de pronto

E a Ciência hoje resgata

O seu destino forjado

Em um tempo sem paridade;

Mas nós coexistimos, sim,

Cada qual a sua maneira,

E conservamos memórias

E saudades inexauríveis

Do que foi anterior a nós

E o nosso pulsar são ondas

De desejos de volver.

Saudades de um amor?

Mas elas teriam que comportar

Toda a anterioridade

E toda a plenitude

Desse leve vago que, igual,

Comporta todas as estrelas;

Um espaço que, insano e poeta,

Arrisquei chamar de alma.

Cada estrela foi um amor,

Ela em si ou ela em mim,

E entendemo-nos por piscar de olhos.

O meu desmedido desejo

Formou galáxias miríades

E eu fui além de um ser

E hoje eu encarno saudades.

Minha saudade mofina,

Eu já lhe supliquei tanto,

Não me faça chorar assim;

Eu sou poeta e cantor

E não mereço esse devenir.

Estrelas, com os seus bilhões de anos,

Por quanto e quanto eu vaguei,

Esse tempo não é nosso –

Não existe tanta saudade!

17 de agosto de 2004

Já publicados:

ANOS DE VIGÍLIA

ORGÍACA

OS