DÚVIDA
Sentis o profundo silêncio que me envolve
Quando apenas respiro
E viajo até a tua pele?
Sentis o silêncio que há no fundo da minha retina
E que dos meus ouvidos tira qualquer som,
Para que as vozes da tua alma
Se tornem folguedos de menina
E até suas melodias
Eu possa ouvir
No imenso
E escuro
Silêncio
Do meu
Mar Interior?
Por acaso é isso que sentistes
Ao perceberes o meu contemplar-te discreto?
Sei não se sabes como a vejo melhor
No imenso lago do silêncio.
Nem se quer imagino
Que saibas
Que o escuro tem faces espelhadas
Onde danças menina as tuas cirandas mais lindas
Só para o deleite do meu saber
E que, pelas minhas mãos etéreas,
A levo a perderes o teu olhar
Por longínquos horizontes
Enquanto no exterior
Divagas nas tuas tarefas cotidianas.
Se não sabes,
Alguma coisa sentistes do meu espírito bruxo
A brincar com as nuances da tua aura dourada e leve.
Se não sabes,
Alguma coisa sentistes para deixares por instantes
O horizonte dos teus pensamentos e olhar de leve em minha direção.
Se não sabes,
Sentistes que alguém sabia o que o teu coração pensava tão distante
Antes de voltares ao horizonte dos teus projetos.
Se ainda não sabes,
Um dia te contarei que é dentro da tua luz
Que descubro os caminhos que te levam à vertigem,
Que é lendo o que há escrito dentro de ti
Que te encanto,
Que te fascino,
Que te seduzo para mim.
Que tocar-te a carne
Não é por que me pedes,
Mas para saber que eu vivo:
Um dia ainda te direi que não a amo mais do que a mim mesmo
E que não me afasto do teu calor para eu mesmo não morrer...
Quem brincou de brisa ainda agora
Para ver a seda azul adivinhar os teus contornos
Vai, depois, desnuda-la para ouvi-la dizer,
Entre o que subirá das canções das tuas cirandas
E outras tantas vozes,
O que pensastes nos horizontes
Quando estavas longínqua de mim.
Sei que pensas que sou muito,
Será que não sabes que não sou nada?