outono II

o dia esta envolvido por um cinzento nostálgico

há minutos chovia torrencialmente

as vidraças do bar onde tomo habitualmente café ficaram preenchidas de gotículas que escorriam docemente de encontro ao soalho de madeira

gosto que chova assim quando estou abrigada a contemplar

no mar os relâmpagos proclamam a chegada do outono

há um perfume a humidade e ao respirá-lo fico com a sensação que estou viva

que sou mais que esta carcaça que vem deambulando sem rumo certo

arrastando um conjunto de ossos articulados

como que suspensa em fios de pesca que alguém maneja a bom gosto

o céu continua a derramar lágrimas

que tristeza assola este lugar onde me refugio

acordo quase sempre com a sensação que não sou gente

mas desta vidraça

ao contemplar o mar

sou evadida por uma vontade de virar o mundo ao avesso

mas não sou deus

apenas uma gota do oceano

lunapensativa
Enviado por lunapensativa em 08/05/2005
Código do texto: T15683