Fazemos!
De cabeça cheia a gente se consome
Mas não somem os eflúvios febris
O escarlate desregula cada membro
E os passos vezes mais terrenos
De cabeça cheia a gente não escreve
Se molda num papel pelo tinteiro
Esperando a glória falsa de um sucesso
A de cada linha o esquecimento
Mas só o que fazemos é traduzir
Beleza negra de cada banco vazio
Alma turva, tetos vãos e moradores
E paralisar de todo corpo o frio
Fazemos sem preço, sem custo
Encaixar toda forma de beleza
Em cada mente mais faminta
Pelo perfeito, pela coisa inteira
Fazemos é testar as agonias
As nossas, deles, sem prosa
O laboratório é meu corpo e erros
É o desequilíbrio do não equilibrável
Faço, por fim, vender a alma
Cada átomo e palavras sólidas
Ao prazer de me doar a cada angústia
E ao fim ébrio de um tonto poema.
(A.B.)
"A cada poeta que existe ou já existiu."