Um Poema Que Não Será Lido

Não digas que conheces minhas dores

Deixa-me com meus desamparos

Não sabes do estio dos meus lábios

E das marcas que abraçam minha solidão

Pedaços de ti que arranham meu corpo

Não penses que é melhor assim

Nem pressuponhas que a saudade finda

Como se o teu silêncio e deserção

Apagassem o perfume do desejo

Ou a inquietude de sentir-te em mim

Não me obrigues a entender a crueldade

Prefiro ignorar esta estrada que dizes destino

Não quero dar-te ao esquecimento dos sentidos

Nada sei destas trilhas em que sucumbes

Soterrado pelos passos que te negas

Não me convides às tuas renúncias

Nem me batizes nestas águas

Que sangram e definham teu peito

Tenho ardores de vida que me cingem

Férteis à espera que te resgates de ti

Não me amputes de mim, dos meus sonhos

Nem me indiques tuas confortáveis saídas

Prefiro o rasgar de entranhas, a febre do sentir

Ao discurso patético do conformismo

Lanço à fogueira, a impotência, o desistir

Sim, hoje estou em carne viva

Palavras à flor da pele, despindo-se

Ainda que seja este um grito confinado

Ao subterrâneo do meu mundo

Este que já não te alcança.

© Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 16/05/2006
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T157415