Ser poesia

Para que me fiz poeta?

Pra nada?

Ser de veludo ou de seda

Ser de terra esturricada

Ser de vento, ser de brasa

Para que me fiz poeta?

Pra nada?

Lentidão no meu agir

Rapidez na minha paixão

Minha poesia se esvaindo pelo chão

Escapando pelos dedos

Enquanto crescem como pelos

Disputando com meus poros

Espaços materiais

Do meu corpo

Para que me fiz poeta?

Manchar a honra?

Rasgar a seda?

Furar com a seta

Com a palavra certa

Achar algo que valha como expressão

Ou até mesmo negar tudo isso

E apenas errar acertando feito cego

O que não era para ser a meta

Para isso que me fiz poeta!

Puxar de Dylan e Bandeira

Versos distorcidos com a sofreguidão

Do poeta errante

Que segue cambaleante

Procurando o que é razão

Saber ser tolo e vesgo

Atravessado e coeso

Simplesmente puxar poesia com os dedos

Tateando o vazio encefálico

Como quem sente o hálito da idéia de um verso

E tropeça nas rimas

E cai de cara em cima

Da poesia que nunca termina:

A vida, a vida

Para isso que me fiz poeta!

Pra viver

Pra dar vida

Pra ser eu e minha querida

Ela que me aquece e ilumina

Acendendo-me a brasa

E deixando-me em carne viva

Poesia e homem pulsando num só ser

Ser poesia em vida.