RELIGARE
Viver é a razão de estarmos vivos.
Minha avó nunca me disse que era feio
ficar de fora. Apenas que bonito
era deixar os olhos baixos,
porque no fim das contas era o fim.
Crer, porque assim era melhor, por mais
que não fosse.
E o que sinto o que penso o que sou
sem necessário crer pra que eu seja?
Acho que o prato que minha avó carrega
à cima do pescoço se tornou
mais raso com o passar do tempo.
Parece que a medida deste prato
veio condicionada à medida
do alimento que a igreja dá quase
todos os dias.
Mas coitada, era obrigada a ser
Maria, como todos deveriam
ser Cristo, carregando (sem, é claro,
a pretensão e as costas de Cristo)
a cruz. Eu nunca compreendi, mas sempre
respeitei, sem, é claro, ser Tomé,
ou Pedro, ou Nietzsche.
Mas hoje é diferente.
Hoje sou o que sou.