RELIGARE

Viver é a razão de estarmos vivos.

Minha avó nunca me disse que era feio

ficar de fora. Apenas que bonito

era deixar os olhos baixos,

porque no fim das contas era o fim.

Crer, porque assim era melhor, por mais

que não fosse.

E o que sinto o que penso o que sou

sem necessário crer pra que eu seja?

Acho que o prato que minha avó carrega

à cima do pescoço se tornou

mais raso com o passar do tempo.

Parece que a medida deste prato

veio condicionada à medida

do alimento que a igreja dá quase

todos os dias.

Mas coitada, era obrigada a ser

Maria, como todos deveriam

ser Cristo, carregando (sem, é claro,

a pretensão e as costas de Cristo)

a cruz. Eu nunca compreendi, mas sempre

respeitei, sem, é claro, ser Tomé,

ou Pedro, ou Nietzsche.

Mas hoje é diferente.

Hoje sou o que sou.

Júlio Miguel
Enviado por Júlio Miguel em 10/05/2009
Código do texto: T1586045
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