O sabor da noite

A noite saboreia-se a si mesma. Não para...

Ansiosa, procura um sonho...

último desejo de saciar-se em seus devaneios.

- Ficar só?... nunca!

Sai pelas ruas.

Entra onde parece achar guarida.

Senta. Um lugar comum

...a mesa, o balcão, o banco, um bar qualquer.

Ao fundo, Sinatra e "My way",

Elis numa canção cujo título se perdeu.

Tipos variados transitam no espaço exíguo.

Cada qual traz na face a palavra não-dita,

reflexo mudo do que lhe vai na alma, no coração.

A noite voltará amanhã

...tantos outros (des)encantos.

A solidão refaz-se sem mudanças.

lilu

***************************************

Recebi um comentário tão marcadamente literário de Tania Orsi, que publico-o aqui como uma colaboração ao meu "O sabor da noite":

"A noite chora lamentos e faz ecos nas copas das árvores. É como suave manto escuro pousado sobre nossas cabeças. Uma negra aquarela derramada , diante da qual ficamos de cara com o infinito espaço escuro pontilhado de astros. Ela cobra seu preço a quem não se entrega, àqueles cujos olhos teimam e cujas almas se atormentam , aos noctívagos errantes, aos desesperados, aos bêbados trôpegos, alheios a tudo, aos que trabalham, aos solitários, aos que choram, pois assim como a escuridão é convite ao sossego, ela é também opressão ... A noite é uma dama suave mas severa e não aceita acordos, mas não há nada melhor que uma doce transgressão quando a voz do amado diz " este é nosso momento"...

Tania Vargas Orsi

lilu
Enviado por lilu em 11/05/2009
Reeditado em 11/06/2010
Código do texto: T1588158