O sabor da noite
A noite saboreia-se a si mesma. Não para...
Ansiosa, procura um sonho...
último desejo de saciar-se em seus devaneios.
- Ficar só?... nunca!
Sai pelas ruas.
Entra onde parece achar guarida.
Senta. Um lugar comum
...a mesa, o balcão, o banco, um bar qualquer.
Ao fundo, Sinatra e "My way",
Elis numa canção cujo título se perdeu.
Tipos variados transitam no espaço exíguo.
Cada qual traz na face a palavra não-dita,
reflexo mudo do que lhe vai na alma, no coração.
A noite voltará amanhã
...tantos outros (des)encantos.
A solidão refaz-se sem mudanças.
lilu
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Recebi um comentário tão marcadamente literário de Tania Orsi, que publico-o aqui como uma colaboração ao meu "O sabor da noite":
"A noite chora lamentos e faz ecos nas copas das árvores. É como suave manto escuro pousado sobre nossas cabeças. Uma negra aquarela derramada , diante da qual ficamos de cara com o infinito espaço escuro pontilhado de astros. Ela cobra seu preço a quem não se entrega, àqueles cujos olhos teimam e cujas almas se atormentam , aos noctívagos errantes, aos desesperados, aos bêbados trôpegos, alheios a tudo, aos que trabalham, aos solitários, aos que choram, pois assim como a escuridão é convite ao sossego, ela é também opressão ... A noite é uma dama suave mas severa e não aceita acordos, mas não há nada melhor que uma doce transgressão quando a voz do amado diz " este é nosso momento"...
Tania Vargas Orsi