Quando eu for velho

Quando eu for velho, e muito velho

E só me restarem as homenagens

Sussurros, palmas intermináveis

Que andam de mãos dadas com sacanagens

Quando eu for velho, ai, quando eu for velho

E o triunfante olhar do meu bisneto

Comunicar-me fulminantemente

Que eu tenho agora um tataraneto

Quando eu for velho, ai, quando eu for velho

E o mundo achar que não mereço amor

E o meu vizinho prá me ver contente

Jogar um pó no meu respirador

Quando eu for velho, ai, quando eu for velho

Não me enviem pra um lugar aflito

Quero o presente de um olhar com brilho

Mesmo comendo arroz e ovo frito

Quando eu for velho, ai, quando eu for velho

E não quiserem mais eu por aquí

Não me obriguem, ai, não me obriguem

Fincar barraco em uma UTI

Quando eu for velho, ai, quando eu for velho

Quero o unguento dos Parauapebas

E um cantinho, assim todinho meu

Onde coçar minhas lindas perebas

Quando eu for velho, ai, quando eu for velho

Quero acordar no tempo que passou

O que eu queria, ai, como eu queria

Dançar de novo aquele Rokem Rôu

Quando eu for velho, ai, quando eu for velho

E dos amigos não sobrar nenhum

Quero ir embora assim, tranquilamente

Em dezenove dias de jejum .