A GULA
A gula não existe
Se não estiver comendo
Nem se farta
Se não estiver devorando
E nunca se cansa
De encher sua pança
Ela come e regurgita
E volta a comer
O que antes vomita
Ela come e devora
Abrindo sua boca enorme
Engolindo tudo na hora
E não sente remorso
Seja um pedaço de carne
Seja um pedaço de osso
A gula nunca se farta
De encher sua carcaça
Não se importa com a gordura
Que lhe pesa no corpo
Ou na economia do bolso
De uma vida com fartura
A gula só quer devorar
E só come
O que lhe apetece
Ou o que lhe dá fome
Pois sem mastigar
Ela mingua
Perde o paladar
Perde a própria língua.