MEU "CAMINHO E SÃO TIAGO"

- Compostela é mesmo ali -

Sonhava na adolescência...

E a sonhar, decidi:

O meu Portal de Pamplona

Pertinho da minha porta

Seria o marco, e parti.

Seguirei sempre sozinha,

Pelo caminho ditoso,

Cantando, sorrindo feliz,

Mesmo que o sonho me leve

A divagar no percurso,

Qualquer dia chegarei...

- Não sigas por essa estrada,

(Alguém falou com ternura,)

É tão áspera e difícil,

Tão longa e tão escura...

Seguirás sempre sozinha,

Não terás flores nem risos

Há tantos desvios curtos

Onde os caminhos são lisos...

Peguei meu cajado e mochila

E plena de entusiasmo

Enveredei pela estrada,

A mesma, bem sinuosa,

Aquela que escolhi

Sem nunca desanimar...

E fui andando, seguindo,

A sorrir, a cantar...

Meditava em oração,

E continuava a andar...

De quando em vez, na pousada

Refletia e descansava,

Mas retomava o cajado

E de novo caminhava...

Já no meio da estrada

Encontrei vovós sozinhas

Tão frágeis, tão alquebradas,

Precisando de amparo,

De calor e de carinho...

- Não nos deixes, tu és forte,

Tens tanta paz, tanta luz!

Quis então amenizar-lhes

O peso de sua cruz.

Já no meio da jornada

Frente ao Mosteiro de Ramos,

Alguém me falou a sorrir:

- Abandona essa estrada

Eu quero te conduzir.

Tantas pedras nos caminhos,

Há fráguas e há espinhos,

A minarem tuas forças,

Apóia-te em meu braço

E jamais sentirás cansaço...

Apoiei-me em meu bordão

E pus-me a caminhar...

E faço a longa jornada

Sozinha, mas confiante.

Não sinto o fardo pesado

É nobre e santa a missão

De amor, desprendimento

Que Jesus um dia legou:

Irmão – um anjo sagrado

E o próximo, nosso amor.

Fiz outra breve parada

Ao ouvir voz infantil:

-Vem!... Chamaram criancinhas,

Canta a ciranda também,

Mamãe partiu para o Céu,

Foi viver com os anjinhos...

Vem cantar a cirandinha,

Vem juntar-te aos pequeninos

Tu nunca terás tristezas,

- É tão bom ser criancinha...

Continuei na estrada,

A mesma, a sinuosa,

Aquela que escolhi,

Sozinha, mas a sorrir,

Sem nunca voltar a ver

O caminho percorrido

Olhando sempre avante,

Sorridente, confiante...

No Palácio de Astorga

Peregrinos perguntaram:

Dize-nos qual o segredo

Dessa eterna juventude

E perene mocidade,

Tu conservas o sorriso,

Atravessas tempestades

E rompes os nevoeiros

Sem trazer qualquer tormento

Quer no corpo, quer na alma...

Não sentes a solidão

Do teu caminhar sozinha

Na longa estrada da vida?

Tu não te sentes cansada,

Ferida, amargurada,

Trôpega e vacilante?

Por que ainda sorris

Se é tão penosa a jornada?

Divisei a Catedral

Santiago Compostela

Chorei e agradeci

Feliz olhando o futuro,

E alegre respondi:

- Sempre carrego a esperança

Minha lâmpada votiva

E olho sempre pra o Alto

E busco sempre mais luz!...

Não tenho medo da noite,

Vivo em plena claridade,

Eu busco a perfeição,

O bem, o belo, a paz...

Eu trago manhãs na alma,

Luzes e claridades,

Pássaros em revoada,

Cascatas que cantarolam

Flores que se renovam

Em eterna primavera...

Eu renasço todo dia

Junto às manhãs de sol,

Eu nunca estive sozinha...!

(mas agora estou, quando Deus chamou minhas duas queridas

Irmãs para habitarem o Céu do bons e dos justos... Deus!!! quanto

é triste estar agora sozinha, repleta de saudades após longa

convivência de amor, harmonia e camaradagem na alegria perene da

“CASA DAS MENINAS” )