No Fio Da Palavra

Pedi a Deus em oração,

Que me desse o dom da fala,

Entender a dor que me cala,

Compor de noite uma canção.

Uma voz tímida na garganta,

Como nó que estrangula,

Nasce, cresce se agiganta

Justiceira de insone gula.

Um náufrago em desalento,

Num mar de eterna fúria

Debate-se, luta ao relento

Inconfidente desta injuria

Eis-me aqui, em sedento pranto,

Sombra que na escuridão flutua

Seresteiro de amargo acalanto

Garimpeiro da madrugada nua.

Assombra-me uma lua pálida

Que no céu escuro, sorrateira

Segue impudica minha esteira

Como amante bela e cálida.

Viajante solitário ao relento

Pássaro de asa quebrada

Que um bando rasante ao vento

Abandonou em derrocada.

Uma musica calma, diligente

Toca ao consolo em serenata

Aplaca esta dor que fere, mata,

Liberta uma alma indigente.

E as palavras ao desafio

De uma lei que não vingou

Corta, fere, desata o fio

Que Ariadne nos legou.

João Drummond

João Drummond
Enviado por João Drummond em 18/05/2009
Código do texto: T1601653
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