COVARDIA

Quando estás junto a mim, sorridente,
me percorre um arrepio
como o sopro de um vento bem frio
que perpassa à minha frente
trazendo, assim, de passagem
um prenúncio, inquietante miragem
d'um inverno tedioso e sombrio.

E me encolho medroso
temendo saber a verdade,
que se esconde na amizade
do teu beijo carinhoso,
tão distante e distraído
como fosse concedido
por pura causalidade.

Sou covarde: eu sei e o digo.
Mas quero-te, aqui, ao meu lado
como um pássaro assustado
a procura de abrigo
que encontrarás no meu peito,
no aconchego do meu leito,
no silêncio do meu quarto.