ÉOLO NÃO É MORFEU
Fui levada a passear
nas asas de um Vento amigo.
Um Vento amalucado,
Dizendo-se apaixonado.
Vi coisas de assombrar,
e muitos, muitos arrebóis.
E o Vento a bailar,
Presenteava-me com luas e sóis.
Vi os tesouros cobiçados
em templos e reinados.
Vi farrapos acorrentados,
humanos descalabros.
Mas, tolamente enamorado,
o Vento me confundia.
Lindas estrelas de noite,
Quentes areias de dia.
Com ele eu voltejava
rodopiava, dançava.
E o Vento alardeava
a maravilha de me amar.
- Estou tonta, quero voltar!
- Não, não! Vamos continuar.
Ainda quero te dar,
muitas noites de luar!
E nesse constante viajar,
flutuar e balançar,
quantos mundos eu vi?
Quase me perdi.
Deslizei pelos séculos, amém!
Porém, por um segundo apenas amei!
Uma vida...uma apenas?
Quase não acreditei!
Por tantos mundos viajei!
Quantos sonhos afaguei!
Se por um segundo amei,
por que sozinha fiquei?
Hoje entendo
tudo o que aconteceu.
O tempo passou ligeiro
e quase tudo se perdeu.
Fiquei perdida no Vento
que quis se vingar de mim.
Ele não entendeu, meu Deus, não entendeu!
Éolo não é Morfeu!
E o tolo desvairado,
loucamente apaixonado,
sentiu-se enciumado, de eu por um segundo,
a outro ter amado!