ÉOLO NÃO É MORFEU

Fui levada a passear

nas asas de um Vento amigo.

Um Vento amalucado,

Dizendo-se apaixonado.

Vi coisas de assombrar,

e muitos, muitos arrebóis.

E o Vento a bailar,

Presenteava-me com luas e sóis.

Vi os tesouros cobiçados

em templos e reinados.

Vi farrapos acorrentados,

humanos descalabros.

Mas, tolamente enamorado,

o Vento me confundia.

Lindas estrelas de noite,

Quentes areias de dia.

Com ele eu voltejava

rodopiava, dançava.

E o Vento alardeava

a maravilha de me amar.

- Estou tonta, quero voltar!

- Não, não! Vamos continuar.

Ainda quero te dar,

muitas noites de luar!

E nesse constante viajar,

flutuar e balançar,

quantos mundos eu vi?

Quase me perdi.

Deslizei pelos séculos, amém!

Porém, por um segundo apenas amei!

Uma vida...uma apenas?

Quase não acreditei!

Por tantos mundos viajei!

Quantos sonhos afaguei!

Se por um segundo amei,

por que sozinha fiquei?

Hoje entendo

tudo o que aconteceu.

O tempo passou ligeiro

e quase tudo se perdeu.

Fiquei perdida no Vento

que quis se vingar de mim.

Ele não entendeu, meu Deus, não entendeu!

Éolo não é Morfeu!

E o tolo desvairado,

loucamente apaixonado,

sentiu-se enciumado, de eu por um segundo,

a outro ter amado!

Isabel Damasceno
Enviado por Isabel Damasceno em 22/05/2009
Reeditado em 08/06/2011
Código do texto: T1609156
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