NOITE DIÁFANA

Somente à noite eu me encontro claramente

No mais, eu me perco no ergástulo dos dias

Tateando a ansiedade com dedos da tarde

A traçar no ocaso minha miragem esguia.

Degusto haustos de caligens noturnas

Manhã que se faz escura ao esconder o sol

Em nuvens impregnadas de amarguras

E um oceano de desafios no arrebol

A esfinge crepuscular é diáfana

Na alma de um dia sem camuflagem

Onde se ver as próprias máscaras

Cobrirem as cores da paisagem

Não digam que a noite é tenebrosa

Se não sabem quando o dia é abrumado

Nem vaticine o final de uma história

Que não tenham abrangido o enunciado

Ivone Alves SOL