DO CANTAR DE UM SOFRÊ
O pássaro da saudade vem
e pousa em meu pomar
Cedo
Dia e noite
Tarde
Horas de Sol e luar.
Alaranjado pássaro de asas negras
soltas por todo o meu céu
canta na alva da estrela
espalhando suas notas em favos de mel
Doce e agônico canto
Melodia que me abraça em solidão
arrebentando-se em nós e prantos
salgando o dia
beijando de lembranças a face terna da alegria
açoitando os umbrais do coração
Pousa e,
gela-me a espinha com seus agudos
queima-me a face com seu tilintar
O meu olhar cerrado e mudo
não mais te acolhe
mas, bem te sorve no não mirar
Laranjeira de espinhos
Deliciosamente perfumada flor
Um belo fruto maduro
de qualidade amara é o seu sabor
Pássaro, passarinho
Sofrê perfeito em precioso ninho
entoa cantos de amor ausente
E, o Eu latente,
filho de Deus, sozinho
ve-se acordado em leito frio
espelhando o vazio presente
O ser encantado e dormente
permite, entao, pousar
o pesado e suave agrado da asa negra
sobre seu corpo quente
sobre o seu caminhar.
D.V.
05/2009
Copyright © 2009 Dulce Valverde
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