GUERRA

Ouço ao longe surdo baque,

Sinto perto mortal explosão.

Sinto, vejo, choro sem saber

Se ou por quê?

Caminho por entre corpos,

Inertes, congelados, dilacerados,

Que passivos, estáticos, sem dor

Sem saber de onde veio a morte.

Eu, não podendo respirar,

Pois o inimigo lança um gás,

Mas, inimigo de quem?

Não o conheço, mas o mato.

Mãos atadas amigos e inimigos

Que não sabem a quem matar,

E quanto tempo mais ainda,

Vou matar quem não conheço?

Vai acabar em um dia,

Um mês, quem sabe um ano.

Ouço o grito da metralha,

Lanço-me ao chão e rezo,

Sentindo o odor da morte,

Vejo muitos caírem,

Traspassados por projéteis,

Corpos caem sobre sangue,

Gemidos terríveis, agonizantes

Chamam pela morte.

Membros dilacerados

Misturam-se ao barro,

Ajoelho-me e peço a Deus

Por um projétil perdido,

Que atinja meu cérebro,

Jogando-me por terra,

Sem nada ouvir ou sentir,

Unir-me aos amigos,

Entre membros, terra e sangue,

Inerte, em silêncio, morto...

Ernesto Ehmke
Enviado por Ernesto Ehmke em 26/05/2009
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