Narcisa

Ando a falar de mim

Como se eu nunca houvesse aqui

Canto o assombro de me descobrir presente

Mesmo na ausência de me conhecer

Ando a narcisar o que sou

Para me fazer maior,

Parte de um todo que era real.

Mas o enfoque que me é perene

É desfoque da lucidez

Trago na cegueira prematura, enfim,

A certeza: eu sou.

E ainda assim,

Tudo o que sei de mim

É o não ser do que sou.

Cecília Afonso
Enviado por Cecília Afonso em 27/05/2009
Reeditado em 03/08/2009
Código do texto: T1618472