Dança das Máscaras
No distinto salão do jardim dos sentidos eternos
Há todos os dias festas abastadas e grandiosas,
Notam-se os homens, todos eles bem trajados,
E as mulheres, adornadamente suntuosas.
Todos se preparam com a mais fina destreza
Com sentimentos de esperanças escondidas
A um purificado banho se dedicam com a frieza
De quem quer tornar as verdades esquecidas.
Despem-se do que decerto deveras sentem
Deixando esvoaçar as maldades que impuseram
Evitando espelhos de dogmas que os enfrentem
Fechando bem a porta para que nu não o vejam
Batom, maquilagem, lápis e sombras juncam
Perfeitamente o antigo rosto frio e amarfanhado
E nas crassas tintas que a nova face adornam
Vê-se desenhando um novo sorriso embotado
Dirigindo-se ao baile, deixam seus pesares
Caminham ofegantes à espera do acontecimento
Lá terão o ensejo de liberarem seus prazeres
Lugar onde a mentira mais cruel é o fomento
Os mais corajosos vêm sem máscaras à porta do salão
Mas à entrada, com um sorriso cru, recebem seu artefato
E os curiosos que só pretendiam espevitar; em vão
São impelidos a contragosto para dentro do tal ato.
Dança a humanidade segundo a música tocada
Sorrindo demente durante a música que os ata
Há palhaço, herói, enfermeira, moça recatada
Mas o que mais se vê são fantasias de beata
Atrás das ceras e das tintas escondem-se esvaecidos
Olhares que exprimem dor, vontade e maldade
E se da pista saem por muito tempo os mais desprevenidos
Quando voltam perdem o que não possuíam de verdade
Mas todas as noites, ao final do baile, alguns mortos ao chão caem
Ao sentir o inebriante e lancinante odor de crisântemo e jasmin.
Desprendidas as mascaras dos finitos, do salão os outros saem,
A chorar, não por pena, mas por saber que amanhã podem ter o seu fim