Cópula poética

Quando estamos escrevendo

da esquerda para a direita

em movimentos suaves

acariciando o papel e fazendo

uns vais e vens suados,

realizamos uma perfeita

e penosa cópula assexuada,

onde quase unimos nossos sexos

o do poeta e da poesia imaginada,

que acabará fecundando em lexos

por uma gestação de risco complicada.

O poeta cansa-se e consegue nada,

após alguns esforços em vão,

descansa e tenta novamente a faina,

usando como membro a mão,

ereta com a pena em riste

embrenha-se no papel,

monte de Vênus virgem,

retorna em movimento e insiste

e consegue um coito realizar

embora no final sinta-se triste

faz a poesia engravidar.

O papel agora maculado

em denso descanso permanece,

antes virgem e fora fecundado,

espera um feto poético que cresce

em seu útero muitas vezes freqüentado.

O pai-poeta aguarda olhando ansioso

ao lado da deusa poesia prenhe no papel

que falta-lhe apenas um ajuste mavioso

para tornar a obra completa, legítima e fiel,

que é apenas um nome se soneto não fosse.

O batismo da poesia é antes do parto

este é feito pelo leitor quando a declama,

após este a puérpera poesia realiza seu fado,

a recém-poesia tem cara de quem a ama,

e não a do pai poeta que tanto penou e clama.

Danilo Soares Bomfim
Enviado por Danilo Soares Bomfim em 04/06/2009
Reeditado em 06/06/2009
Código do texto: T1631124
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